Até um tempo atrás, sempre que as pessoas me cumprimentavam em função destas datas, apesar de saberem que eu não comemoro, eu sentia isso como um desrespeito às minhas escolhas. Hoje em dia eu interpreto isso como uma incompreensão das minhas razões, então, vou tentar explicar:
Não é que eu não dou importância, eu só não sigo estes costumes. E também não é ano novo independente de eu comemorar ou não: o calendário civil é uma abstração. Ele é, inclusive, diferente de cultura para cultura, e não é só porque a cultura em que estamos inseridos atualmente é predominante no mundo que eu necessariamente vou seguir os mesmos costumes. Pra mim, é como comemorar o sábado, quando ele é um dia igual à segunda-feira. A diferença entre os dias é o que se faz do sábado ou da segunda, e isso são escolhas pessoais.
Um dos motivos pelos quais eu não comemoro datas civis ou cristãs é porque, sendo um costume cultural, nestas datas se deseja felicidades por educação, até pra quem a gente não dá a mínima importância, e eu não quero fazer parte disso. Eu muitas vezes acabo dizendo “feliz ano novo” pra umas pessoas com quem eu não tenho intimidade, por ser mais fácil do que explicar isso aqui tudo. Mas é da boca pra fora, e eu acho que desejo de felicidades é uma coisa que deve ser séria, sincera e espontânea. Até porque eu desejo paz e felicidades para todas as criaturas do mundo, independente do dia que for.
Esta minha escolha pode dar a impressão de que eu sou uma pessoa ranzinza, que não gosta de comemorações, ou que fica em casa sofrendo no natal – não é isso. Eu adoro comemorar, mas acho que ter datas específicas para comemorar restringem as nossas comemorações. Eu comemoraria todo dia, e o motivo deveria ser só a vontade de comemorar, ou porque se está feliz. Mas as datas de fim de ano são estressantes ou deprimentes pra uma grande parcela da população, que comemora por obrigação, como é o caso de muitas pessoas próximas a mim – e por isso também eu não comemoro, já que pra mim não tem significado e não quero contribuir com o sofrimento dos outros.
Esta minha escolha não significa que eu não entendo ou que eu censure a opção das pessoas de comemorar datas civis e religiosas. Algumas não gostam e comemoram por educação, por se sentirem obrigadas, mas outras realmente se divertem. Eu entendo e respeito, só não participo e gostaria de ser respeitada também.
Eu comemoro mudanças de ciclo: datas como o equinócios e solstícios, mudanças de lua… estas datas sim, na minha opinião, são mudanças de ciclo, e não o 1º de janeiro. O ideal, pra mim, por exemplo, seria que os dias de eclipse ou outros eventos astronômicos fossem feriados pra que a gente pudesse assistir! Mas não, na nossa cultura, os feriados são abstrações como o 7 de setembro, o 15 de novembro ou o 25 de dezembro, que não tem nenhum significado pra mim. Por isso, na medida em que eu consigo, subverto estas datas, fazendo minhas comemorações particulares e me abstendo das coisas com as quais eu não concordo.
E eu ainda não encontrei um jeito mais simples de dizer essas coisas. Sigo buscando, e me importando cada vez menos se alguém me deseja feliz natal ou ano novo esperando o mesmo em troca. Se eu decepcionar alguém ao não retribuir, pelo menos não será eu mesma. O meu ano novo começa no instante em que eu decidir fazer, daquele momento, o início de um novo ano. E este instante pode ser qualquer um.